A arte de bem titular está ao alcance de poucos nas redacções de jornais. E é pena: um bom título é fundamental para agarrar o leitor - podendo, em certos casos, agarrá-lo para sempre.
Falo por mim: nunca mais esqueci o título do obituário do Professor Horus, um astrólogo que chegou a estar na moda em Portugal durante as décadas de 70 e 80. Quando morreu, o Diário de Notícias dedicou-lhe um excelente texto necrológico em que revelava facetas desconhecidas da sua biografia, designadamente ter sido praticante amador de pugilismo na juventude. O título era um achado: "O astrólogo que veio do boxe".
Certos títulos fizeram história na imprensa portuguesa. Alguns incorporaram-se até no léxico comum. Eis um deles: "De vitória em vitória até à derrota final", publicado no extinto semanário O Jornal, durante o atribulado mandato de Francisco Pinto Balsemão como primeiro-ministro, num executivo de coligação PSD-CDS, entre 1981 e 1983. Da autoria do chefe de Redacção daquele periódico, Manuel Beça Múrias, desaparecido demasiado cedo. Poucos como ele dominavam tão bem a arte de fazer títulos. Este - que se generalizou ao ponto de se tornar um aforismo dos nossos dias - foi importante também pelo seu carácter premonitório: o governo Balsemão cairia pouco tempo depois.
Hoje predomina a banalidade: muitas peças ficam estragadas com títulos incapazes de ultrapassar o lugar-comum. Quando surge uma excepção a esta regra anoto-a logo, com entusiasmo. Aconteceu-me a 15 de Dezembro, ao ler no El Mundo (em papel, pois na edição em linha lá surgiu um dos habituais títulos deslavados) o obituário de Peter O'Toole: enquanto outros periódicos se rendiam à linguagem formatada, inundada de clichés, o jornal espanhol deslumbrava com uma frase em título que era quase um poema: "Arenas doradas, mirada celeste".
T. E. Lawrence, o Lawrence da Arábia, haveria de gostar.
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