De há uns tempos para cá tem-se tornado moda realizar aquilo a que resolveram chamar “conferências de imprensa sem direito a questões”. E as aspas aqui são para citação mas, sobretudo, porque aquilo é mesmo para colocar entre aspas.
Se na política isto está a tornar-se habitual, eu até consigo compreender. Há um determinado assunto sobre o qual o partido (ou determinado agente político) quer emitir uma declaração, tomar uma posição, e chama a imprensa para o fazer. Mas como a posição política foi tomada ali entre dois cafés e uma conversa de corredor, não convém dar espaço para questões, não vá perceber-se a fragilidade da mesma. Ou então, porque o assunto da tomada de posição não interessa a ninguém e não se quer dar espaço para perguntas sobre o que interessa a toda a gente mas sobre o qual não se quer falar.
É preciso passar uma imagem de dinamismo ao eleitorado ou, na maioria das vezes, acalmar as hostes internas e tem que se fazer o papel de ler uma coisita para as câmaras.
Mas esta semana vi a moda estender-se a outros quadrantes. Uma instituição pública, a propósito de um grave incidente, resolve convocar a comunicação social para uma conferência de imprensa. Antes da mesma começar alguém anuncia que a pessoa x irá ler um comunicado e que não há espaço para questões dos jornalistas.
O que eu gostava de perceber, pois não consigo profissionalmente entender, é porque raio marcaram então a “conferência de imprensa”? Se era para a pessoa x ler um comunicado de imprensa, não era mais útil para todos enviar o dito para as redacções? Ainda por cima era um comunicado com dados factuais. Não havia tomadas de posição que justificassem a presença de jornalistas. E, ainda por cima, o leitor do comunicado não era um grande leitor.
Meus senhores. Isto não são “conferências de imprensa”. São sessões de leitura. E qualquer dia os jornalistas deixam de ir perder tempo a estas sessões de leitura (até porque a maioria deles lê melhor). E, nesse dia, percebem que afinal até era bom quando eles vinham e faziam perguntas que nos deixavam esclarecer melhor o tal do comunicado que se leu.
Pessoalmente, para sessões de leitura, prefiro as que faço todas as noites ao meu filho...
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