Quarta-feira, 24 de Setembro de 2008

Os grandes projectos de comunicação em África ainda estão para vir

Nas últimas semanas muito se tem falado de Angola, das suas potencialidades e do seu crescimento efectivo, dois vectores que não devem ser questionados por quem esteja minimamente esclarecido.

 

No entanto, convém distinguir entre aquilo que são negócios de cariz limitado, nos quais ganhar dinheiro e obter lucro é o objectivo (perfeitamente legítimo e aceitável, diga-se) e  investimentos estratégicos de médio e longo prazo.

 

Para o autor destas linhas, o que se discute é uma questão de estilo e de objectivos e não de mérito. Por isso, quando se tem falado de investir em Angola está-se quase sempre a aludir a "meros" interesses comerciais sem qualquer enquadramento estratégico.

 

A este propósito, deverá estar agora a fazer um ano onde num almoço com mais duas pessoas, o autor destas linhas percebeu que afinal havia pessoas em Lisboa (com ligações de alto nível em Luanda, em Maputo e em Pretória) com uma "visão" estratégica para África.

 

Mais do que fazer dinheiro (porque não é certamente isso que Portugal tem para oferecer em Angola), havia um projecto ambicioso e estratégico que, acima de tudo, defendia interesses de Portugal e, consequentemente, dos portugueses em África.

 

Um projecto que assentava, sobretudo, no mais poderoso instrumento de política externa que Portugal tem: a língua. 

 

Mas, para que tal projecto fosse implementado era necessário encontrar um factor mobilizador e que servisse de patamar para se poder partir para algo mais grandioso. 

 

É foi precisamente no futebol que se encontrou o tal factor mobilizador que une angolanos, moçambicanos e os portugueses na África do Sul (mais à frente já se explica esta inclusão). Estes três vértices estão ligados não só pela língua portuguesa, mas também pela paixão do futebol. 

 

O jornal a A Bola será a primeira plataforma de defesa da língua portuguesa em África, primeiro em Angola, depois em Moçambique e, por fim, na África do Sul. Está-se a falar de redacções próprias e edições impressas localmente. O Benfica, por razões óbvias, está próximo deste projecto.

 

Tudo isto será dinamizado com o Campeonato do Mundo da África do Sul, em 2010, um evento que alguns dirigentes das cúpulas africanas querem aproveitar como a "oportunidade" para lançar África no mundo.

 

A língua portuguesa também terá presença neste evento, estudando-se a possibilidade de editar localmente um caderno desportivo, supostamente de a A Bola, para os milhares de portugueses ou leitores de português naquela região.

 

Quando este vértice estiver completo, poder-se-á dizer que a primeira fase estará concluída.

 

De acordo com as informações recolhidas, a ideia que este autor conheceu há um ano mantém-se em curso, embora com alguns atrasos, visto que, à semelhança de outros grandes projectos estratégicos, nem todos os envolvidos partilham as mesmas formas de os alcançar.  

 

Mais uma vez, é importante sublinhar que por detrás de toda esta ideia está uma lógica de interesse nacional que não se esgota a curto prazo. O objectivo não é fazer balanços financeiros ao final do ano ou anunciar novos feitos económicos. 

 

Tudo isto é algo que resulta do pensamento estratégico de algumas pessoas, que, por sua vez, mobilizaram outras tantas, quer em Lisboa, mas também nas capitais dos Estados africanos aqui referidos.

 

Neste momento, estão a ser dados tímidos passos preparatórios, mas quando o projecto arrancar de forma mais veemente então será apenas o princípio de uma estratégia que poderá criar uma verdadeira ponte de comunicação entre Portugal e diferentes realidades africanas.

publicado por Alexandre Guerra às 22:18
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