Sexta-feira, 11 de Março de 2011

"indignai-vos!" ou "por uma nova responsabilidade profissional, também nas RP"

"Indignai-vos!"   Se calhar passou despercebido a muitos no passado fim-de-semana, a referência que o  Expresso fez  a este livro de Stéphane Hessel, 93 anos, herói da Resistência francesa, sobrevivente dos campos de concentração nazis e um dos redactores da Declaração Universal dos Direitos Humanos. São 35 páginas de Manifesto, com edição em Português pela editora Objectiva, em que uma figura com relevância moral, se indigna, pela escrita, com o actual estado de coisas mundial. O opúsculo é um sucesso em França sobretudo por ser um grito: um grito pacífico.

 

Esta obra é particularmente interessante no presente contexto que Portugal vive. Um dia antes da manifestação marcada para Lisboa por membros de uma certa geração, e no dia em que Teixeira dos Santos anunciou mais uma série de medidas de austeridade, vale a pensar no que nos conduziu até aqui.

 

E por muito que nos custe assumir, os culpados da situação a que Portugal chegou, não são o PS, PSD, Cavaco ou Sampaio. Os culpados somos todos nós, que desde há dezenas de anos, aceitamos placidamente aquilo que uma "pseudo-elite" vai, alegadamente, fazendo por nós. A manifestação de amanhã é completamente irrelevante porque os elementos centrais do sistema político e social se vão manter.

 

Durante os últimos anos abstivémo-nos, rigorosamente, de verificar o desenvolvimento do nosso país; não nos indignámos, simplesmente aceitámos tudo, acreditando cegamente que a Divina Providência nos iria continuar a prover. A culpa é nossa porque não fomos e somos exigentes, competentes, profissionais, porque não somos rigorosos e competitivos, porque tudo se arranja, se desenrasca, porque há sempre um subsídio, um apoio, uma ajuda, uma cunha, que nos há-de "safar desta vez, mais uma vez". Há sempre uma boa desculpa: porque o Estado "está lá para nos ajudar", porque não vale a pena fazer nada porque isto "é tudo uma grande panela", porque o mérito não é compensado, porque, porque, porque!

 

Há minha volta só ouço vítimas, desculpas e "deixa-andarices", há sempre uma razão para as coisas não acontecerem, para as incompetências sucessivas quotidianas que sofremos se sucederem, há sempre um segurança que puxa do seu pequeno poder para emperrar os processos e barrar inexplicavelmente a passagem, uma pessoa "dos serviços administrativos" que cometeu mais uma vez o mesmo erro, o funcionário que não está de momento porque foi tomar mais um café e fumar mais um cigarro,

 

De que interessa "macro-indignarmo-nos", se nada fazemos ao nível da "micro-indignação"? Para variar olhemos para nós, tomemos o nosso dia-a-dia nas mãos, responsabilizemo-nos, façamos pela vida, sejamos profissionais, rigorosos e competentes, responsáveis, todos os dias, todos os minutos, em todos os actos, em todas as actividades; sejamos fiáveis e confiáveis, cumpramos a palavra dada, a promessa feita, lutemos honrada e eticamente pelos nossos objectivos, respeitemos o nosso adversário e o próximo, olhemos olhos nos olhos as pessoas e digamos "sim" ou "não" sem receio, sem olharmos para o chão ou para o lado, assumamos as nossa convicções e façamos o que temos a fazer.

 

A culpa é nossa e não das elites ou da geração "rasca" ou "à rasca": nossa!  O mal deste povo é que não se governa e não se deixa governar, é não fazer e invejar quem faz, é não ganhar e lutar contra os que ganharam em vez de aprender com as falhas e fazer melhor da próxima vez, é deixar as coisas andarem e não se envolver, é não aprofundar os temas e pedir aos outros para fazerem resumos. É falar na surdina e não exigir justiça e reparação. Este é um povo que hipotecou o seu futuro por muitas décadas porque simplesmente "há sempre alguém que nos há-de ajudar". Nunca a fábula da cigarra e da formiga, foi tão aplicável a um país e a uma comunidade como os nossos. E nestas alturas, face aos protestos e acusações de uns contra outros, só apetece dizer "Get a life!  A culpa é TUA"

publicado por Antonio Marques Mendes às 12:35
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