Terça-feira, 21 de Dezembro de 2010

A sombria natureza do “PR Man”

 Nabil Kanso - Faust Paintings (1976/79)

 

É sem dúvida um artigo muito interessante, aquele que LPM sugere e sobre o qual promete voltar a falar. E sublinhando a sua observação, é de facto uma “leitura essencial” para os profissionais da comunicação que tenham gosto pelo conhecimento e queiram compreender melhor um lado mais obscuro das Public Relations.   

 

Porque, um dos aspectos interessantes do artigo da Economist é não se prender tanto na imagem linear e organizada que os consultores de Public Relations têm normalmente desta actividade, na qual, de um lado existe uma empresa prestadora de serviços e do outro, o cliente. Nesta construção pós-moderna das Public Relations existe uma relação cordial e sistematicamente organizada, centrada na lógica de “serviço ao cliente”.  

 

Ora, a Economist traça um enquadramento histórico, a partir do qual é possível viajar-se para um lado mais sombrio das Public Relations, mas, eventualmente, mais aliciante e onde só alguns acedem. Não será certamente um mundo de virtudes e de bons costumes, e muito menos de “power points”, de relatórios, de ROI’s de “pontos de situação”, de directores-gerais, de chefes, de directores ou directoras de comunicação/marketing histéricas que pensam que o mundo gira à volta da sua realidade empresarial.

 

De certa maneira, o artigo da Economist conta a história da origem das Public Relations no universo anglo-saxónico. Mas é sobretudo uma história que pressupõe luta de poder, guerras de bastidores, mentiras, ilusões, uma lógica dos “fins justificam os meios”.

 

Aliás, o título do próprio artigo remete para uma lógica de “ascensão” e de “conquista”, que se joga num tabuleiro que é exclusivo para os “PR Man” que dominam as “dark arts” ou, talvez, uma espécie de força de elite ao serviço do “dark side”.

 

Quanto aos outros, a maioria, os consultores bem comportados e alinhados com o paradigma reinante, muitos deles saídos das fornadas dos cursos de comunicação, obedientes às regras quotidianas impostas pelas estruturas empresariais, sem rasgos de criatividade ou de arte, lá vão seguindo nas suas vidas.

 

E, se tudo correr bem, no final do dia vão para casa contentes porque o cliente lhes deu uma “palmadinhas nas costas”. A agência e chefe agradecem porque no final do ano o “fee” foi aumentado (ou pelo menos não foi reduzido).

 

É uma existência digna, mas entediante.

 

E neste mundo das Public Relations, sem qualquer tipo de confronto ou batalha de gigantes, que na verdade é conhecido por “sector”, todos procuram a harmonia e a felicidade, e lá vão vivendo a irrealidade dos seus heróis das séries e filmes ou dos vídeo jogos, usurpando as suas aventuras, mas sem saírem do sofá, totalmente desligados do terreno real, onde os riscos existem e a adrenalina dispara.

 

É certo que são estes consultores e agências que facturam, que compõem o universo conhecido das Public Relations, que passam horas em reuniões na companhia de gestores cujo cérebro é do tamanho de uma noz e com criativos engraçadinhos da publicidade... Em última instância, são estes os consultores que fazem mexer o mercado da comunicação.

 

Quanto aos outros, a tal elite de “soldados” ao serviço do “dark side”, desprovidos da moralidade e da bondade, mas dotados da inteligência, da técnica e da arte maquiavélica, tal e qual Fausto, estão condenados a moverem-se na penumbra do poder, ficando-lhes reservado o papel de fazerem História.

 

Esta dicotomia está bem expressa no dilema com que a própria Economist se depara sobre a natureza do “PR Man”: “Is he a master manipulator? Is he the devil’s advocate (as long as Satan pays his fees)? Or is he a benign bridge-builder between the corporate world and the public?”

 

A metamorfose do Ivy Lee, tido como um dos pais das Public Relations e autor de uma nobre “Declaração de Princípios”, acaba por ser o retrato de um homem que caminhou em direcção ao desconhecido. Uma espécie de Anakin Skywalker atraído para o “dark side”. Mas, em vez de se transformar em Darth Vader, Lee redescobriu-se na pessoa de “Poison" Ivy.

 

publicado por Alexandre Guerra às 08:30
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