Quarta-feira, 15 de Dezembro de 2010

Consultoras de PR jogam as suas peças no tabuleiro do mercado chinês

Nanjing Street, uma das principais avenidas de Xangai 

 

Se há mercado com potencial de crescimento na área das Public Relations, esse mercado é o chinês. Até aqui nada de novo, até porque se está perante uma evidência natural que resulta do crescimento galopante da China. Aliás, o potencial de desenvolvimento na China estende-se a várias áreas.

 

Na arena internacional, a China é considerada hoje um “gigante”, o maior detentor mundial de dívida pública estrangeira, nomeadamente americana. A par do dinamismo económico, assente numa poderosa máquina produtiva e exportadora, a China tem apostado forte noutras áreas, sobretudo ao nível de infra-estruturas ferro e rodoviárias e no âmbito militar, nomeadamente com o investimento massivo na modernização da sua marinha.

 

Obviamente que tudo isto se relaciona e cria uma dinâmica de evolução na sociedade chinesa. Porém, é preciso sublinhar de que se trata de um processo ainda muito inicial.   

 

É certo que existe uma elite forte e poderosa, capaz de gastar 500 a 1000 dólares com a maior das facilidades em qualquer saída à noite. Mas a classe média é ainda uma faixa muito reduzida da população, com pouco poder de compra e sem papel interventivo nos processos de decisão política, económica ou social. Não existe uma consciência colectiva de participação ou de exigência perante as entidades institucionais, empresas ou marcas.

 

A China ainda está num estádio primitivo das Public Relations, onde os decisores políticos, empresários e cidadãos estão alheados da lógica comunicacional, assim como das suas virtudes e potencialidades, e das temáticas que dominam as agendas de qualquer consultora a operar nos mercados e sociedades mais evoluídas.

 

Também as marcas internacionais presentes na China estão ainda na fase de “marcar terreno”, enquanto que os negócios das grandes empresas continuam a ser feitos com interlocutores do “aparelho” ou por contactos directos de empresários estrangeiros com homens de negócios locais.

 

No meio desta lógica, existe ainda pouco espaço para a concretização da prática das Public Relations na sua plenitude, embora existam já sinais claros de ser um sector a ter em conta e com perspectivas de crescimento.

 

“Mais e mais empresas estão a dar grande atenção às Public Relations [na China] e a investirem mais recursos”, disse Oscar Zhao, CEO da BlueFocus, a maior consultora da China e cotada na bolsa de Shenzhen, que facturou 32 milhões de dólares em 2009, reflectindo um crescimento de 12 por cento, de acordo com o Holmes Report 2010 Global Rankings.

 

A japonesa PRAP, a maior consultora da região Ásica-Pacífico em 2009, facturando quase 50 milhões de dólares nesse ano, deve parte das suas receitas à sua “impressionante” prestação no mercado chinês.

 

Com a perspectiva de negócio crescente, várias consultoras mundiais têm tentado entrar no mercado chinês através da aquisição de pequenas agências locais. Um processo que a BlueFocus tenta contrariar apelando às pequenas agências chinesas que resistam à tentação de vender os seus negócios a consultoras internacionais, com o argumento de que a sua manutenção será muito mais rentável do que a venda.

 

Peter Mao, um dos líderes da BlueFocus, defende que a colocação em bolsa do capital das consultoras chinesas será muito mais rentável do que a opção de venda. Este é um pressuposto que poderá fazer sentido à luz do potencial crescimento chinês e dos resultados alcançados pela BlueFocus, no entanto, é também provável que com esta estratégia “nacionalista”, Mao queira “afastar” as grandes consultoras internacionais do mercado chinês ao mesmo tempo que mantém a sua liderança no sector.

 

O que poderá ser compreensível se se tiver em consideração que a BlueFocus está muito dependente de um só cliente, a Lenovo. Só esta empresa é responsável por mais de 22 por cento das receitas daquela consultora, que aloca 50 profissionais em exclusivo para a Lenovo.

 

Por outro lado, é o próprio Tian Wenkai, secretário da administração da BlueFocus, a explicar ao China Daily que o mercado chinês está muito fragmentado e que dificilmente as consultoras nacionais conseguirão fazer face aos grandes grupos internacionais. A título de exemplo, Wenkai refere que "em Pequim existem pelo menos 1000 agências de PR, o que significa que o mercado precisa de mais integração". Aquele responsável da BlueFocus acrescenta ainda que "agora que as multinacionais estão a tentar agarrar a China", o sector chinês das Public Relations tem que criar uma "marca forte" para competir com aquelas. 

  

Apesar dos apelos dos líderes da BlueFocus, os analistas não estão tão certos quanto às vantagens de pequenas empresas chinesas de Public Relations entrarem em bolsa. A lógica de parcerias e de fusões entre empresas do mesmo ramo pode ser uma solução mais adequada à realidade e necessidades do sector chinês.

 

publicado por Alexandre Guerra às 08:01
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