Quinta-feira, 30 de Setembro de 2010

O Engagement nas Public Relations em debate no Cannes Lions Review 2010

 

Ainda na ressaca do anúncio das novas medidas de austeridade propostas pelo Governo, António Figueira, da Cunha Vaz & Associados, acredita que “todas as coisas más têm pelo menos uma coisa boa”.

 

António Figueira foi um dos cinco profissionais do sector da consultoria de comunicação com responsabilidades de chefia nas suas empresas que estiveram presentes esta Quinta-feira num dos painéis de debate do Cannes Lions Review 2010, que este ano tem como mote principal o Engagement no âmbito dos sectores da comunicação e da publicidade.

 

Aquele responsável da Cunha Vaz, num tom perfeitamente ajustado à conjuntura de profunda crise económica e financeira que Portugal atravessa, considera que será possível retirar-se algo de “construtivo” e de “inovador” do difícil momento que se vive. António Figueira acrescente que em momentos como este é essencial que os profissionais do sector sejam capazes de encontrar as oportunidades para mudar de paradigmas.

 

Centrando-se muito concretamente no sector das Public Relations, António Figueira toca num ponto muito importante, e que não sendo novidade para mercados mais maduros, é ainda um mundo a descobrir pelas empresas, organizações ou outras entidades nacionais. Os decisores destas, na opinião do consultor, deveriam começar a ser sensibilizados para as virtudes das Public Relations quando comparadas com a aposta excessiva em termos de budget na publicidade ou marketing.

 

António Figueira, e relembrando as melhores práticas internacionais em termos de Public Relations, não deixou de dizer que a aposta neste tipo de comunicação integrada será muito mais “rentável” e “interessante” para as empresas em Portugal do que optarem por estratégias de marketing e publicidade conservadoras e desajustas à complexidade das novas realidades sociais.

  

Seguindo este princípio, Salvador da Cunha foi mais longe ao desafiar os “clientes” a canalizarem pelo menos 5 por cento dos orçamentos totais destinados à publicidade e marketing com destino a campanhas de Public Relations. E, em tom premonitório, Salvador da Cunha disse que o dia em que os gestores e decisores estiverem sensíveis a esta mudança de paradigma “vão ver as maravilhas que se conseguem fazer”.

 

Esta evolução na prática das Public Relations em Portugal é hoje em dia aceite (pelo menos em termos de modelo) pela maioria dos profissionais da comunicação. Mas, subjacente a esta dinâmica existe a problemática do reconhecimento do próprio sector, assim com a sua falta de notoriedade.

 

Foi precisamente no âmbito da reputação da profissão que a Catarina Vasconcelos da LPM recorreu a um estudo da GFK feito em parceria com o Wall Street Journal e levado a cabo a nível internacional. O documento hierarquiza as várias profissões, colocando os consultores de comunicação em Portugal a meio da tabela.

 

Tudo isto remete para a questão central, e sublinhada pela consultora LPM, que tem a ver com “percepção que as pessoas têm em relação ao sector”. E neste caso em concreto, quando se fala de pessoas está-se a falar de gestores e decisores e na forma como estes vêem as consultoras de comunicação.

 

A partir daqui, a Catarina Vasconcelos chegou a duas questões: Qual a melhor forma de explicar o que é um consultor de comunicação? De que forma os consultores promovem o seu próprio sector?

 

Ambas ficaram sem resposta, mas foi dado um importante contributo para a reflexão sobre estas matérias.

 

Redireccionando o debate para casos concretos de Engagement, Maria João Lima da Marketeer e moderadora deste debate, apresentou Rui Camarinha da GCI, que trouxe à audiência o interessante projecto da Carris “Menos Um Carro”, como exemplo da concretização de uma estratégia plena de Public Relations na sua essência mais completa.

 

Trata-se do projecto bandeira da GCI e que Rui Camarinha enquadrou no novo paradigma do Public Engagement assumido como vector essencial da actividade daquela consultora.

 

Partindo do princípio que tudo está em “mudança” e que existe uma “crise de confiança”, Rui Camarinha falou em sete princípios que orientam o novo modelo de comunicação integrada e que deve envolver todos os stakeholders, porque todos “têm o mesmo peso”.

 

Ouvir opiniões e estudar; participar e interagir; desenvolver conteúdos de domínio universal; identificar e envolver os parceiros; assumir o papel de advogado do diabo para se perceber todos os pontos de vista; correr riscos; medir resultados de forma cirúrgica.  

 

Estes sete princípios sustentam o paradigma do Public Engagement, que de certa forma encontra paralelo na “solução integrada” proposta pelo Pedro Reis da Imago. Esta “solução integrada” apresentada pela consultora de comunicação não deve ser mais do que um reflexo da “visão integrada da realidade”, observou Pedro Reis.

 

Neste novo modelo de comunicação, o nível de exigência aumenta e é fundamental que se aposte na “especialização”, sobretudo através de parcerias.

 

Mas, para Pedro Reis, é imprescindível a concretização de uma estratégia digital e on line para que as Public Relations explorem todas as suas potencialidades. E aqui, aquele gestor considera que é preciso uma “linguagem própria” para a qual os clientes ainda não estão preparados, porque “são pouco sofisticados” na área da comunicação digital.

 

Seja como for, Pedro Reis considera que o futuro das Public Relations passa pela social media, enquanto resultado da mesma, mas igualmente como sua fomentadora através do fornecimento de conteúdos. Uma área que está ainda por explorar por parte das consultoras de comunicação em Portugal.

  

publicado por Alexandre Guerra às 20:52
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