Nem um ano de existência tem, mas já se fala do seu fim. De acordo com a interpretação da informação veiculada nos últimos dias, o jornal I poderá ter os dias contados, caso não surja um parceiro ou um comprador disposto a investir (o termo será talvez esbanjar) naquilo que é normalmente um sorvedouro de dinheiro.
Pelos vistos, bastaram poucos meses para que aquele projecto de comunicação se começasse a tornar um Titanic financeiro. Curiosamente, foram os próprios detentores do título que, voluntária ou involuntariamente, trouxeram à luz do dia as fragilidades em que o jornal parece estar mergulhado.
Depois do Grupo Lena ter emitido um comunicado algo dúbio, em que dizia tudo, mas ao mesmo tempo não dizia nada, rapidamente se percebeu que o I segue o caminho do Público, mas numa velocidade bem mais acelerada.
Ora, a grande questão é que o Grupo Lena parece não estar disposto, nem em condições, de assumir um papel de “mecenas”, tal como Belmiro de Azevedo tem feito ao longo destes vinte anos de existência do Público. Aliás, a capacidade de sofrimento do homem forte da Sonae foi aumentando proporcionalmente à medida que o Público se enterrava num poço cada vez mais fundo.
Uma coisa é certa. O Grupo Lena parece não querer caminhar no Calvário nem um ano, quanto mais 10 ou 20 anos.
Pelos vistos, o I é para vender o mais rapidamente possível, no entanto, aqueles que seriam os interessados naturais, os grandes grupos de comunicação, não mostraram qualquer vontade em explorar uma potencial aquisição.
O pecado original
O pecado original do I foi ter sido concebido sobre ilusões e, até mesmo, algum delírio. Algo incompreensível, tendo em conta os vários casos de estudo que o mercado português tem para apresentar em matéria de nascimentos e de óbitos de projectos jornalísticos.
Porque só um desfasamento com a realidade é que faz um jornal arrancar com 74 jornalistas e com custos de 3,5 milhões de euros anuais só com pessoal. E no fim, ainda se esperava que o jornal viesse a dar lucro ao fim de cinco anos.
Os mentores do I deviam ter olhado para os vários exemplos do passado, sendo o Sol aquele que mais inspiração lhes poderia ter dado para não cometerem os mesmos erros. Relembre-se que à luz do devaneio do “arquitecto”, o Sol foi apresentado ao mercado como um jornal único no mundo e que iria ultrapassar o Expresso em vendas.
Com essa crença quase mística, o Sol foi criado numa aura de grandeza, por vezes assumindo contornos surreais, como foi o caso da contratação do quadro redactorial, como se de uma escolinha tratasse, onde os “pintainhos” se iam alinhando em torno do chefe. E como nestas coisas de lançar jornais é sempre tudo em grande, parece que cada membro da direcção exigia duas ou três secretárias, para que não fosse faltar nada em termos de assistência administrativa.
A verdade é que as contingências obrigaram o “arquitecto” a descer à terra e, com alguma arte e engenho (herdadas de duas décadas à frente do Expresso e a escapar a constantes golpes palacianos), foi mantendo o barco a flutuar, tendo a inteligência de ir buscar algumas pessoas que têm feito a diferença. Algo que o I não fez. Aliás, algumas contratações de “nomes” do I são de carácter duvidoso e não parecem acrescentar valor nem leitores àquele jornal.
O problema do I é que, por um lado, não obstante as suas competências, o Martim Avilez Figueiredo está longe de ter a habilidade perversa (e já agora o talento) do “arquitecto” e, por outro lado, parece que em seu auxílio não devem vir mais angolanos.
O quadro actual do I não é famoso, já que a publicidade não está a entrar como se esperava e as vendas de 8 mil exemplares por dia, pouco mais são do que um número residual para um diário que se quer assumir de referência. Ainda de acordo com as notícias vindas a público, o Martim Avilez Figueiredo terá mesmo recusado comprar o jornal por um euro, indiciando que as dívidas acumuladas já são consideráveis para não compensar este tipo de negócio.
A acrescentar a isto, o I não teve o tempo suficiente para se impor no mercado e criar laços com os leitores e a sociedade. E essa é a grande diferença para o Público que, embora falido e com os índices de qualidade no vermelho, já ocupou o seu espaço no mundo da comunicação e da opinião pública em Portugal. Pode-se não gostar do jornal e até criticá-lo, mas a verdade é que também já não se pode viver sem ele. Ora, com o I a situação é diferente: até há quem o considere interessante e inovador, mas poucos dariam pela sua falta se o jornal fechasse portas amanhã.
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