O senhor do café da esquina quer ser seu amigo no Facebook
por: Sandra Silva
A Economist publicou recentemente um artigo de título sugestivo: Primatas no Facebook – mesmo on line, o neocórtex é o limite.
O artigo abria a discussão sobre os limites das redes entre pessoas (no fundo, da amizade), e se as relações interpessoais ainda obedecem aos mesmos padrões, num mundo altamente dominado pelo on line e pelas comunidades virtuais.
A questão parece, à partida, absurda, nem que seja porque todos conhecemos alguém que diariamente colecciona mais uns quantos contactos no Facebook, exibindo uma lista de “amigos” capaz de deixar deprimido quem tem que adicionar a antiga professora primária para ultrapassar a barreira psicológica dos 100.
Mas o artigo não deixa dúvidas: mesmo num mundo onde todos estão (ou podem estar) permanentemente ligados e em contacto através do Twitter, do You Tube ou do Facebook existem limites ao número de amigos que cada pessoa pode ter, e esses limites são, apenas e só, biológicos.
Não é novo que a capacidade cognitiva do cérebro limita o tamanho da rede social que um indivíduo consegue estabelecer (e manter). De acordo com a teoria do antropólogo Robin Dunbar, somos capazes de ter ligações estáveis com cerca de 150 pessoas. A partir daí, perdemo-nos na imensidão de informação que é preciso gerir no contacto com os outros – quem conhece também quem e como e porquê, as inimizades, os ódios (e os amores), o que se pode contar ou não e a quem… Enfim, uma canseira.
Muitas organizações ao longo dos tempos, das aldeias medievais às tropas do exército romano, parecem ter sido formadas em redor deste número. Porque toda a gente conhece toda a gente, o grupo funciona com um mínimo de burocracia. Mas isso não prova que a teoria de Dunbar está correcta, e, ao longo do tempo, muitos questionaram este limite, com estimativas que quase o duplicavam.
O sociólogo Cameron Marlow, um perito em investigação das comunidades on line, concluiu agora que, efectivamente, a média de amigos de cada utilizador do Facebook é de 120, o que corrobora a teoria de Dunbar, e que as mulheres tendem a ter mais amigos que os homens. Mas o que dizer das pessoas que têm redes com mais de 300, 400 ou 500 amigos? Não contrariam em absoluto a existência de limites às redes sociais por incapacidade… mental?
A verdade é que o número de pessoas da lista de amigos com que nós interagimos frequentemente é pequeno e estável. Aliás, quanto mais activa a interacção ou íntima, mais pequeno e mais estável é o grupo. Assim, o utilizador médio – o tal que tem 120 amigos – geralmente responde aos posts de apenas sete desses amigos, com comentários às fotos, às mensagens de estado ou no mural. As mulheres são ligeiramente mais participativas e respondem a dez.
Entre os utilizadores do Facebook com 500 amigos estes números são, obviamente, mais altos, mas não muito. Os homens deixam comentários em 17 amigos, as mulheres em 26.
Ou seja, mesmo em ambientes on line, tendemos a manter contacto com o mesmo círculo, pequeno e estável, de amigos, os de sempre e os que dispensam aspas. Basicamente, reforçamos os contactos que já existem ou já existiam no mundo off line. E sim, o número de amigos é limitado, que o nosso cérebro não dá para mais. Ainda que adicionemos o senhor do café da esquina como nosso amigo no Facebook.
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