Quinta-feira, 23 de Julho de 2009

Word of Mouth - Sandra Silva

 

O senhor do café da esquina quer ser seu amigo no Facebook

 

por: Sandra Silva

 

A Economist publicou recentemente um artigo de título sugestivo: Primatas no Facebook – mesmo on line, o neocórtex é o limite.
 

O artigo abria a discussão sobre os limites das redes entre pessoas (no fundo, da amizade), e se as relações interpessoais ainda obedecem aos mesmos padrões, num mundo altamente dominado pelo on line e pelas comunidades virtuais.
 

A questão parece, à partida, absurda, nem que seja porque todos conhecemos alguém que diariamente colecciona mais uns quantos contactos no Facebook, exibindo uma lista de “amigos” capaz de deixar deprimido quem tem que adicionar a antiga professora primária para ultrapassar a barreira psicológica dos 100.
 

Mas o artigo não deixa dúvidas: mesmo num mundo onde todos estão (ou podem estar) permanentemente ligados e em contacto através do Twitter, do You Tube ou do Facebook existem limites ao número de amigos que cada pessoa pode ter, e esses limites são, apenas e só, biológicos.
 

Não é novo que a capacidade cognitiva do cérebro limita o tamanho da rede social que um indivíduo consegue estabelecer (e manter). De acordo com a teoria do antropólogo Robin Dunbar, somos capazes de ter ligações estáveis com cerca de 150 pessoas. A partir daí, perdemo-nos na imensidão de informação que é preciso gerir no contacto com os outros – quem conhece também quem e como e porquê, as inimizades, os ódios (e os amores), o que se pode contar ou não e a quem… Enfim, uma canseira.
 

Muitas organizações ao longo dos tempos, das aldeias medievais às tropas do exército romano, parecem ter sido formadas em redor deste número. Porque toda a gente conhece toda a gente, o grupo funciona com um mínimo de burocracia. Mas isso não prova que a teoria de Dunbar está correcta, e, ao longo do tempo, muitos questionaram este limite, com estimativas que quase o duplicavam.
 

O sociólogo Cameron Marlow, um perito em investigação das comunidades on line, concluiu agora que, efectivamente, a média de amigos de cada utilizador do Facebook é de 120, o que corrobora a teoria de Dunbar, e que as mulheres tendem a ter mais amigos que os homens. Mas o que dizer das pessoas que têm redes com mais de 300, 400 ou 500 amigos? Não contrariam em absoluto a existência de limites às redes sociais por incapacidade… mental?
 

A verdade é que o número de pessoas da lista de amigos com que nós interagimos frequentemente é pequeno e estável. Aliás, quanto mais activa a interacção ou íntima, mais pequeno e mais estável é o grupo. Assim, o utilizador médio – o tal que tem 120 amigos – geralmente responde aos posts de apenas sete desses amigos, com comentários às fotos, às mensagens de estado ou no mural. As mulheres são ligeiramente mais participativas e respondem a dez.
 

Entre os utilizadores do Facebook com 500 amigos estes números são, obviamente, mais altos, mas não muito. Os homens deixam comentários em 17 amigos, as mulheres em 26.
 

Ou seja, mesmo em ambientes on line, tendemos a manter contacto com o mesmo círculo, pequeno e estável, de amigos, os de sempre e os que dispensam aspas. Basicamente, reforçamos os contactos que já existem ou já existiam no mundo off line. E sim, o número de amigos é limitado, que o nosso cérebro não dá para mais. Ainda que adicionemos o senhor do café da esquina como nosso amigo no Facebook.
 

 

publicado por Rodrigo Saraiva às 11:15
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3 comentários:
De Ricardo Belo de Morais a 23 de Julho de 2009
Boas!

Tudo o que está escrito é de fácil concordância, mas falta referir que nas redes sociais em geral (não apenas no Facebook), quando falamos das redes de contactos que fazemos, a palavra "amigo" tem naturalmente de levar muitas aspas.
Amigos, mesmo amigos, aqueles que vemos "fora da internet" todos os dias ou todas as semanas, com quem partilhamos a vida real, são sempre "poucos". Depois, há de tudo: as centenas ou milhares de conhecidos, os contactos profissionais mais ou menos próximos, os antigos colegas de liceu/faculdade/empregos anteriores, a malta das noitadas, pessoas mais ou menos públicas ou nem por isso a quem nos interessa estar ligados, e por aí fora, incluindo até, cada vez mais, empresas e instituições.
Certo é que em muitos casos, quantos mais forem os "amigos da net", mais alvos podemos ter a quem enviar mensagens que nos interessem difundir.
É legítimo e natural ver, por exemplo, quem exerça a profissão de relações públicas de um espaço de lazer a ter milhares de "amigos". São milhares de pessoas a quem se pode, com meia dúzia de cliques, convidar para um evento ou informar do lançamento de uma novidade de consumo.
Quanto a adicionar o senhor do café da esquina como nosso "amigo" no Facebook, se tivermos como fazê-lo, devemos fazê-lo. As vantagens são inúmeras: podemos estar no trabalho e apanhá-lo online a tempo de perguntar se tem pão que nos reserve para quando chegarmos à rua de casa, ou se ainda apanhamos aquela tarte de maçã que cai que nem ginjas para a sobremesa de um jantar de última hora, entre tantas outras hipóteses...

Abraços,

Ricardo Belo de Morais
De Sandra Silva a 23 de Julho de 2009
Caro Ricardo,

É claro que os amigos com aspas dão imenso jeito no Facebook! E - confesso-lhe - faço parte do grupo daqueles que estão mais próximos dos 500 do que dos tais 120 que são média no Facebook.
Convido-o a ler outro post que escrevi no blogue das equipas da LPM: http://lugaresmesmocomuns.blogs.sapo.pt/74251.html
E sim, adicionarei a antiga professora primária se ela quiser e o senhor do café da esquina também, até o Ricardo!! Dão sempre jeito para aquilo que faço!

Abraço,

Sandra Silva
De Ricardo Belo de Morais a 25 de Julho de 2009
Olá Sandra, já tinha lido esse, também. Tudo verdades. Na BM&A, já estamos habituados a influenciar por estas vias; e também a ser contactados por jornalistas que "apanham" uma destas "pistas". Felizmente, ainda há muitos que gostam e sabem como investigar uma história, mesmo quando a maneira de lá chegar é "fora da caixa".
Um abraço,
Ricardo Belo de Morais

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