Quarta-feira, 4 de Junho de 2014

A música que os assessores de Ronald Reagan nunca perceberam

  

Faz hoje 30 anos que foi lançado o álbum "Born in the USA", o primeiro grande sucesso comercial de Bruce Springsteen e que o catapultou para um outro nível de notoriedade. Estava-se em plena campanha presidencial e Ronald Reagan preparava a sua reeleição para a Casa Branca, através de um discurso em que apelava aos valores conservadores e republicanos da América. 

 

Com uma icónica capa (fotografia de Annie Leibovitz) e um espírito menos "dark" de que o anterior álbum "Nebraska", rapidamente houve quem visse naquele álbum, e sobretudo na música Born in the USA, uma espécie de ode ao "american way of life" na sua vertente mais tradicionalista.

 

Alguns círculos mais conservadores e membros do próprio staff de Reagan não hesitaram em fazer uma "colagem" dos valores defendidos pelo Presidente à mensagem transmitida pela música. Reagan chegou mesmo a materializar essa estratégia numa declaração pública proferida durante um acção de campanha, em que dava a entender que poderia haver alguma proximidade entre o que o Presidente defendia e aquilo que o "Boss" escreveu nas suas canções.

 

De certa forma, essa ideia resistiu aos tempos e muitas pessoas olham para a música "Born in the USA" como uma espécie de hino patriótico. Mas, efectivamente não é. Não só Bruce Springsteen nunca teve qualquer proximidade a Ronald Reagen, como a letra daquela música está longe de representar aquilo que muitos pensam que representa.   

 

Ainda hoje a BBC News referia-se à música "Born in the USA" com uma das letras pior interpretadas de sempre. E de facto, a música é sobre o regresso de um soldado americano aos EUA após ter estado na guerra do Vietname, e retrata as dificuldades que enfrenta na reintegração na sociedade.

 

Além de todos aqueles que nunca voltaram do Vietname, a música chama a atenção para a forma dramática como os veteranos de guerra regressaram a casa, encontrando um país que parecia não ter lugar para eles. A maioria eram pessoas da classe operária que tinham abandonado os seus trabalhos para integrarem as forças armadas e irem combater numa guerra em nome da sua pátria. No regresso aos EUA apenas encontram desemprego e desespero.

 

Há quem veja esta música como um lamento profundo da crise da classe operária dos EUA, que desde a década de 70 começou a sofrer as consequências da desindustrialização da América, nomeadamente no sector automóvel.

 

O problema de alguns conservadores e dos assessores de Reagan que retiraram leituras desta música é que se agarraram apenas ao refrão do Born in the USA.

 

Walter Mondale, o candidato rival presidencial, ainda tentou aproveitar-se da situação ao atacar Reagan, e afirmando que era ele que contava que o apoio de Bruce Springsteen. Algo que foi de imediato desmentido pelos "public relations" de Bruce.

 

Em Novembro desse ano, Reagan vencia as presidenciais de forma avassaladora para um segundo mandato na Casa Branca.

 

publicado por Alexandre Guerra às 15:32
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Segunda-feira, 31 de Março de 2014

Um hino que vem mesmo a tempo

No outro dia o Alexandre fez aqui uma análise de uma música que, pela sua mensagem, tem (ou teria) condições para se tornar um hino de uma geração ou de um movimento. Tal já tinha acontecido em parte, como também refere o Alexandre com o “Que parva que eu sou” dos Deolinda. Num excelente post o Alexandre relaciona as mensagens da música com a manifestação “Geração à Rasca” e recorda o impacto, não apenas social e político, comunicacional daquele movimento.

 

Situações destas, em que movimentos sociais adoptam como seus músicas de mensagens fortes, não são um exclusivo de uma geração, nem de um país. A história encarrega-se de ir construindo momentos marcantes. Alguns mais efémeros, outros que deixam fortes marcas e trespassam calendários.

 

Ainda recentemente no Brasil a população saiu em força para as ruas. E continua a sair. Milhões de brasileiros em diversas cidades construíram impressionantes molduras humanas e obrigaram a “Presidenta” Dilma a tomar diversas medidas, que pelo que se vai assistindo são ainda insuficientes para satisfazer os brasileiros. Essas manifestações também adoptaram um hino e o seu nome virou o seu “grito de guerra”. Nas ruas e nas redes sociais o “Vem Pra Rua” tornou-se o mote e o motivador para demonstrar a vontade de mudanças do povo brasileiro.

 

Longe estariam os criativos da Leo Burnett Brasil de imaginar a dimensão que alcançou a sua criação para o seu cliente Fiat. A canção “Vem Pra Rua” foi a resposta criativa ao briefing recebido em que a Fiat, não sendo patrocinador oficial da Selecção brasileira nem do Mundial, queria mobilizar os brasileiros em torno da sua equipa e ocupar esse território tão disputado por marcas, onde muitas investem milhões.

 

Se o contrato da Leo com a Fiat tem cláusulas de sucesso por resultados obtidos o cheque deve ter muitos zeros.

 

Vejam o vídeo.

publicado por Rodrigo Saraiva às 11:18
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Quinta-feira, 27 de Março de 2014

Um hino que vem com três anos de atraso

 

Há cerca de duas semanas, vários meios de comunicação social assinalaram os três anos das manifestações ocorridos no dia 12 de Março de 2011, que juntaram milhares de pessoas em várias cidades do país, num movimento espontâneo e inédito, por ser apolítico e fruto de um descontentamento geral instalado na sociedade portuguesa.

 

A ideia partiu de quatro jovens amigos, que personificavam as dificuldades e as desilusões que qualquer outro jovem português sentiria, longe de imaginarem as repercussões do movimento que lançariam no Facebook.

 

Para a História, aquela iniciativa ficou conhecida como protesto da “Geração à Rasca”, numa alusão ao célebre título de um editorial de 1994 do então director do Público, Vicente Jorge Silva, onde se questionava (ele não afirmava) se a juventude dos tempos finais do cavaquismo era uma “geração rasca”.

 

Em termos comunicacionais, a manifestação “Geração à Rasca” foi uma autêntica "bomba" que apanhou de surpresa todos os actores do sistema político muito distanciados da realidade do povo. Durante alguns dias, a euforia (e a comunicação) foi muita, com milhares de portugueses esperançados na aurora de um tempo novo.  

 

Mas esse tempo não chegou. O protesto massivo e genuíno não deu lugar ao movimento de mudança, como aliás os próprios quatro amigos hoje reconhecem. Eles, de certa forma, desempenharam bem a sua missão, mas não apareceu nenhum líder carismático para pegar nesse trabalho e dar-lhe o corpo necessário para que se tornasse numa força capaz de se imiscuir no debate político monopolizado pelos partidos.

 

Com o passar dos dias, semanas, a comunicação da “Geração à Rasca” foi perdendo força e o fenómeno rapidamente passou a epifenómeno. Apesar da simpatia e solidariedade mostrada por vários quadrantes da sociedade, tudo se dispersou.

 

E porque terá isso acontecido, tendo em conta o descontentamento real que se instalou sobretudo nas gerações mais jovens? A resposta não estará devidamente estudada, mas, tal como já foi aqui referido, teria sido fundamental que a determinado momento a “Geração à Rasca” fosse adoptada por um líder carismático, forte e mobilizador, vindo de um qualquer sector que não da Política.

 

Além disso, faltaram elementos inspiradores, vitais na eclosão de qualquer movimento de massas. Esses mesmos elementos são veículos essenciais para se comunicar simbolicamente determinadas mensagens e estados de espírito. Uma frase, uma imagem, uma música… Recorde-se, por exemplo, que muitos viram na música dos Deolinda, “Que parva que eu sou”, o hino desse possível movimento. Porém, algo faltava a essa música, por modo a dar-lhe um peso dramático e inspirador.

 

Agora, três anos depois, Tiago Bettencourt lança o single “Aquilo que eu não fiz”, do novo álbum a ser lançado no final da Primavera. Para a realização do vídeo clip pediu, através do Facebook, a colaboração dos seus fãs para enviarem os seus próprios vídeos.

 

Ao ouvir esta música, não se pode deixar de pensar que tem todos os ingredientes necessários para se tornar um autêntico hino de uma “geração à rasca”. É pena que tenha chegado com três anos de atraso.    

publicado por Alexandre Guerra às 17:04
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Terça-feira, 18 de Fevereiro de 2014

E porque a música também é comunicação...

 

Bruce Springsteen, Eddie Vedder e Tom Morello (guitarrista dos Rage Against The Machine), juntos, no passado dia 15, em Melbourne, imagine-se, a tocar Highway to Hell dos AC/DC. Momentos únicos de comunicação e inspiração...

publicado por Alexandre Guerra às 16:08
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Sábado, 20 de Abril de 2013

Morreu o "génio gráfico" que transformou simplicidade numa sublime forma de comunicação

The Dark Side of The Moon (1973)


A iconografia é uma forma elevada de comunicação, onde a arte materializada numa imagem é o meio escolhido para passar uma determinada mensagem. Pode ser num quadro, num poster, num cartaz, numa fotografia, até mesmo num rótulo de uma garrafa ou numa embalagem de bolachas. Tudo depende da mensagem e do designer gráfico que a concretize artisticamente. 

 

Algumas das imagens mais emblemáticas e sofisticadas podem ser encontradas em capas de álbuns de música. Basta recordar o Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band dos Beatles, o The Velvet Underground & Nico dos Velvet Underground, o Sticky Fingers dos Rolling Stones, ou o Born to Run de Bruce Springsteen

  

Mas, nenhuma imagem será tão icónica como a célebre capa do Dark Side of The Moon dos Pink Floyd. A imagem de fundo negro com um prisma a reflectir um feixe de cores foi criada pelo designer gráfico britânico Storm Thorgerson, que esta Quinta-feira morreu aos 69 anos.

 

Em comunicado, os Pink Floyd lamentaram a perda de um "amigo", "colaborador" e "génio gráfico" da banda.

 

Thorgerson, que em 1960 fundou a Hipgnosis, foi o principal responsável pelas famosas capas dos álbuns dos Pink Floyd (e também de outras bandas como Led Zeppelin, Muse ou do músico Peter Gabriel). Além do The Dark Side of The Moon, outros álbuns tiveram capas míticas, como o Atom Mother Heart, o Wish You Were Here ou a espectacular imagem do The Animals com o famoso porco voador. 

 

Numa entrevista à BBC, em 2009, Thorgerson explicou o conceito simples que esteve por detrás da capa do The Dark Side of The Moon:"It's a nice but simple idea. Refracting light through a prism is a common feature in nature, as in a rainbow. I would like to claim it, but unfortunately it's not mine!"


Quando há genialidade, a simplicidade basta para se fazer uma obra de arte e um transcendente momento de comunicação. 


Atom Heart Mother (1970)


Wish You Were Here (1975)


Animals (1975)

publicado por Alexandre Guerra às 00:02
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Domingo, 13 de Janeiro de 2013

Where Are We Now?

 

Os últimos dias voltaram a demonstrar que as chamadas "redes sociais" excitam-se com o lado mais "voyeur", mais mesquinho, com o lixo cibernético, com a futilidade, com o vazio intelectual, com a humilhação ou com imagens de gatinhos a brincar com cãezinhos. Ainda por estes dias, um vídeo promocional da Samsung, de conteúdo infeliz e medíocre, gerou um tráfego intenso nas "redes", com milhares de "partilhas". Certamente que cada um lá terá tido os seus critérios comunicacionais para perpetuar uma mensagem de valor quase nulo.

 

Contrastando com esta "febre viral", e na mesma altura em que o vídeo da tal Filipa Xavier fazia furor nas "redes", era lançado o sublime teledisco da nova música de David Bowie. Um verdadeiro trabalho artístico e com um conteúdo de grande valor. O assunto até foi bastante noticiado nos meios de comunicação social tradicionais, fazendo incluindo uma primeira página do Público, já que é a primeira música original de Bowie em dez anos.

 

Mas, curiosamente, não há registo que o teledisco tenha sido alvo de grande entusiasmo ao nível das "partilhas" e dos "likes" nas redes sociais e muito menos motivo de análises por essa blogosfera fora. Perante isto, é caso para dizer que o título da música de Bowie se adequa que nem uma luva: Where Are We Now?

publicado por Alexandre Guerra às 23:18
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Sábado, 6 de Outubro de 2012

Skyfall by Adele

 

A versão integral da música Skyfall já está disponibilizada no site oficial 007.
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publicado por Alexandre Guerra às 16:48
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Sexta-feira, 6 de Abril de 2012

Morreu Jim Marshall, o criador do "som do rock"

 

Para a maioria das pessoas é muito provável que o nome Jim Marshall pouco diga, mas para músicos e apaixonados por esta arte é uma referência incontornável da história da música do século XX ou não tivesse sido o inventor dos célebres amplificadores Marshall.

 

Jim Marshall morreu ontem aos 88 anos, deixando um legado imenso. Para quem conhece o som de um Marshall sabe que é inconfundível e não tem paralelo noutras marcas. Aliás, nos últimos 50 anos acabou por ser esta a marca preferida dos grandes nomes da música, sobretudo na cena rock e pop. Hendrix, Clapton, Moore, Slash, apenas para mencionar alguns.

 

Mas tudo começou em 1960 quando Jim Marshall, baterista, abriu uma loja em Londres. Na altura, Pete Townshend, dos Who, chamou-o atenção para o facto de não haver uma marca britânica de amplificadores que pudesse rivalizar com as americanas e que pudesse emitir um som bem mais poderoso.

 

De imediato Jim Marshall criou o seu protótipo, que viria a ser o “som do rock”, e a partir daí estes amplificadores passaram a ser presença assídua na maioria dos palcos mundiais e nos estúdios de músicos.

 

Também o autor deste poleiro foi um dos muitos que optou por um Marshall há já alguns anos e dificilmente o trocaria por outro. Além disso, é daqueles amplificadores da Marshall que ainda foram feitos à “antiga”, com uma excelente qualidade de construção.  

 

Para o som ser celestial, só falta mesmo a guitarra Gibson Les Paul, mas para já, este autor vai-se contentando com a sua Epiphone.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.

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publicado por Alexandre Guerra às 00:45
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Sexta-feira, 10 de Fevereiro de 2012

Afinal, ainda há consumidores de música que mantêm padrões de qualidade

 "Tattoo" é o primeiro single do álbum A Diferent Kind of Truth

 

Os Van Halen acabaram de lançar o seu mais recente álbum A Diferent Kind of Truth, que junta, pela primeira vez em 26 anos, o vocalista original, o inconfundível David Lee Roth. Era um regresso há muito esperado e o resultado da talentosa dupla Lee Roth/Edie Van Halen parece não ter defraudado expectativas, como aliás tem sido referenciado por quase toda a crítica.

 

Por isso, numa altura em que as editoras, através de estratégias agressivas de marketing e com a ajuda das várias plataformas de comunicação, constroem e amplificam produtos musicais de qualidade (no mínimo) duvidosa (perante a ausência de espírito crítico e exigente), notícias como esta não podem deixar de ser recebidas com uma certa dose de esperança, de que há consumidores que ainda mantêm alguns padrões de qualidade, contribuindo para que o álbum dos Van Halen, na sua semana de estreia, possa estar em condições de disputar o número um da Billboard.

publicado por Alexandre Guerra às 23:10
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Sexta-feira, 23 de Setembro de 2011

Vinte anos depois do Nevermind e a ruptura de um certo modelo de sociedade

 

Quando se parte para uma análise sistémica de uma qualquer comunidade, é importante nunca descurar o seu “ambiente”. Compreender a origem das tendências culturais, dos comportamentos sociais ou dos modelos ideológicos que orientam e ditam políticas de governança é essencial para se fazer uma leitura correcta das sociedades e das suas perturbações.

 

Na concretização desse exercício intelectual, complementado com uma forte componente empírica, parte-se, por vezes, daquilo que é geral e mais evidente até se chegar ao aspecto (aparentemente) mais mundano, mas que olhado em retrospectiva se percebe que funciona como catalisador ou dinamizar para mudanças importantes.

 

A verdade é que todos os aspectos da sociedade se relacionam com a governança dos povos. Não apenas a política e a economia, mas também a cultura, a religião, o desporto e por diante. É importante perceber o afecto e a ligação que as pessoas têm com estas áreas de interesse. Mas, é ainda mais profícuo para um governante compreender os interesses comuns que servem de elos de união entre determinados grupos inseridos numa sociedade.

 

A resposta não se encontra, certamente, nas grandes reflexões políticas e económicas que por aí se ouvem ou se lêem assinadas pelos “iluminados” do regime. E porquê? Por uma razão muito simples: não sabem. Porque essas mesmas mentes “esclarecidas” vêem a sociedade única e exclusivamente através do espectro da política e da economia. Para esta gente, não há mundo para além disto. É o desconhecimento e a ignorância de uma "rua" que dizem conhecer, mas na qual nunca caminham.

 

Que o leitor não tenha dúvidas, trata-se de “meia dúzia” de "ilustres" entre os 50 e os 70 anos, todos “amigos” neste pequeno burgo. Dotados de um saber enciclopédico (que é um bem valioso), reconhece-se, mas que de pouco serve em termos analíticos se não for complementado com o conhecimento das dinâmicas e das tendências quotidianas destes tempos contemporâneos.

 

Como é possível que estes mesmos “iluminados” falem com tanta propriedade sobre a sociedade, quando lhes escapa tanto?

 

A verdade é que diariamente nos jornais ou nas televisões, mas também nas universidades, nas empresas ou nas entidades públicas, essa classe instalada de comentadores, de gestores, de empresários ou de professores universitários vai falando do seu púlpito, quase sempre com um tom sobranceiro.

 

Tudo isto vem a propósito dos 20 anos volvidos sobre o lançamento do álbum Nevermind dos Nirvana e que se assinalam este Sábado (24), com iniciativas um pouco por todo o mundo.

 

Neste momento, poderá estar o leitor a perguntar o que tem uma coisa a ver com a outra.

 

Mas, olhando em retrospectiva, percebe-se hoje que o Nevermind não foi apenas um acontecimento musical e cultural oriundo de Seattle. Foi também uma nascente de tendências, de comportamentos e de novos paradigmas de pensamento para o mundo ocidental, veiculados por uma nova geração que, de forma mais ou menos directa, influenciou a sociedade e condicionou as políticas de governação.

 

Aliás, vendo bem as coisas à luz da teoria de Nassim Nicholas Taleb, o autor destas linhas ousaria dizer que o Nevermind tem as características de um “cisne negro” (acontecimentos de grande escala, que podem ser negativos ou positivos, e que fogem à normalidade estatística, sendo largamente imprevisíveis para o observador. Ver mais aqui e aqui.)

 

Como escrevia alguém, o Nevermind foi responsável pelo último grande movimento musical do século XX. Porém, foi mais do que isso. Foi um manual de se estar em sociedade para uma boa parte da juventude de então.

 

O Nevermind apelava a uma simplicidade até então desconhecida. A música Come As You Are é um exemplo fascinante dessa mesma simplicidade, com uma letra libertadora, que incentivava os jovens a assumirem o seu caminho numa sociedade cada vez mais competitiva e castradora. O Nevermind exortava ainda à criatividade sem limites, acompanhada de uma certa agressividade, por vezes, algo ingénua, mas suficiente para marcar uma posição. Espoletou uma dinâmica de ruptura com um modelo de sociedade instituído.

 

Relembre-se que após uma década de efervescência do movimento "grunge", para o qual contribuíram bandas como os Pearl Jam (que estão também a comemorar 20 anos, mas de carreira), os Alice in Chains, os Soundgarden, os Temple of The Dog (um álbum brilhante) ou os Mother Love Bone (a origem de todas as coisas), Seattle viria a ser em Novembro de 1999, por ocasião de uma cimeira da Organização Mundial de Comércio (OMC), palco daquela que ficaria para a História como a primeira grande manifestação anti-globalização.

 

Enfim, muito mais haveria a dizer, mas o que importa aqui é problematizar sobre a forma de como estes fenómenos (não) são percepcionados por essas tais "mentes" conhecedoras que por aqui andam nesta praça. A verdade é que sem a compreensão desses mesmos fenómenos, dificilmente se consegue perceber as sociedades e as dinâmicas dos seus cidadãos.

 

Já agora, e para terminar, o autor destas linhas confessa que tem alguma curiosidade para saber se Marcelo e “companhia” fazem alguma ideia do que seja o Nevermind.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.

 

publicado por Alexandre Guerra às 12:07
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Terça-feira, 22 de Março de 2011

The Wall

 

Poucos meses depois da queda do Muro de Berlim, com o ano de 1990 já a decorrer, mais concretamente a 21 de Julho, aquela cidade acolhia um dos mais memoráveis e históricos concertos. Entre as Portas de Brandenburgo e a Praça de Potsdam, Roger Waters recriava o famoso The Wall, álbum conceptual dos Pink Floyd lançado em finais de 1979, perante uma assistência no local de mais de 350 mil pessoas e uma audiência televisiva de muitos milhões em 52 países. O The Wall não podia ser mais actual naquela conjuntura.

 

Ontem à noite, no Pavilhão Atlântico, Waters voltou a erguer o “muro” para, de forma apoteótica e sublime, voltar a derrubá-lo, mas desta vez reconciliado com o público e consigo próprio. Mais comunicativo e divertido, Waters tem esgotado todos os concertos desta tournée mundial, iniciando agora em Portugal a etapa europeia. 

 

O concerto, que hoje se repete, consubstancia a perfeição técnica e o esplendor da arte. Musicalmente, o The Wall é magistral, com um argumento denso, mas hipnotizante. Sem dúvida, o The Wall é daqueles concertos raros, que se torna um privilégio para quem assiste, porque, mais do que a música e os efeitos, as pessoas sentem que se tornam parte da história.

 

Aquele espectáculo tinha sido montado apenas 31 vezes entre 1980 e 1981, o número de concertos repartidos por quatro cidades. A tournée acabou por revelar-se um projecto demasiado ambicioso e grandioso, dando prejuízo. No entanto, o The Wall já estava gravado na história.

 

O álbum tinha sido lançado em finais de 1979, para se tornar uma das referências dos Pink Floyd. Foi sobretudo um projecto pessoal de Roger Waters, seu criador, reflectindo o seu distanciamento com o público, os seus medos e angustias perante a indiferença da sociedade e a opressão do poder instituído. Um espelho da sua própria vida, muito marcada pelo papel austero da mãe e pela morte do pai na II GM.

 

O The Wall viria em 1982 ser adaptado para cinema pela mão de Alan Parker que, numa entrevista publicada ontem no jornal i, confessou a dificuldade de trabalhar com Waters. Seja como for, o filme viria a tornar-se uma referência cinematográfica, ficando na memória os brilhantes e provocatórios desenhos animados de Gerald Scarfe, conceituado cartoonista político britânico, e recuperados nos concertos da actual tournée.

 

O The Wall é um autêntico canal de comunicação para fortes mensagens políticas e sociais, que se mantém actual nos dias de hoje, de tal forma que foram feitas algumas alterações nas imagens projectadas durante o concerto e que têm provocado bastante polémica. Além dos políticos e governos, outro dos alvos tem sido as empresas, com a Shell e a Mercedes a serem fortemente visadas. Instituições financeiras e  companhias de área da área do grande consumo são igualmente bafejadas com a ironia e a sátira de Waters.

 

Como ainda ontem se lia no Público, Waters disse em comunicado que os seus medos pessoais de há 30 anos resultaram numa obra que funciona como "alegoria" para conceitos como o "nacionalismo, racismo, sexismo, religião". Waters dedica os concertos "a todos os inocentes mortos nos anos que se passaram".  

 

publicado por Alexandre Guerra às 15:42
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Quinta-feira, 6 de Agosto de 2009

A aposta da Pepsi na música

O posicionamento musical da Pepsi não é de agora. Todos se recordam da ligação a músicos famosos como por exemplo Michael Jackson.

 

A marca de refrigerantes, na sua demanda de sobreviver face ao poderio da Coca-Cola, não só tem mantido a sua aposta na música, como a aprofunda cada vez e com novos projectos.

publicado por Rodrigo Saraiva às 10:30
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Sexta-feira, 26 de Junho de 2009

O lado mais rock de Michael Jackson

 

 

 

E porque este autor concorda inteiramente com o Rodrigo, presta aqui também uma homenagem a Michael Jackson.

 

Não querendo estar a repetir toda a informação que se tem comunicado, fica aqui uma modesta contribuição que revela, curiosamente, a vertente mais rock do Rei da Pop.

 

Um lado menos explorado pelo próprio artista e menos identificado pelos admiradores, mas sempre presente desde o Thriller até aos anos mais recentes.

 

Nem sempre foram evidentes esses momentos que extravasaram para o rock, mas são reveladores de um lado mais agressivo de Jackson, que recorreu quase sempre à guitarra para expressar essa sua tendência. 

 

Na maior parte dos casos não se tratam de abordagens demasiado óbvias, mas antes momentos musicais de grande qualidade, seja através de um solo, de um riff, ou de um acorde mais arpejado, mas que fazem a ponte da Pop para o rock. 

 

Ao ouvir-se com atenção as músicas abaixo referidas, percebe-se que são introduzidas sonoridades e "toques" que entram no campo do rock, reveladores do talento imenso de Jackson e da sua virtuosidade para a criatividade musical fosse em que género fosse.   

 

Beat it, do mítico Thriller (1982), conta com o acompanhamento na guitarra de Eddie Van Halen, que utiliza no solo principal uma técnica (tapping) em que o próprio é especialista, e que marca claramente o carácter mais rock da música.

 

Dirty Diana, do Bad (1987), na qual o guitarrista Steve Stevens, ex-companheiro de banda de Billy Idol, usa e abusa da guitarra com distorção ao longo de toda a música.

 

Give in to me, do álbum Dangerous (1991), um single que nunca foi lançado nos Estados Unidos, que conta com a participação de Slash, ex-guitarrista dos Guns N'Roses, dando a sonoridade subtil da sua Les Peaul, utilizando sempre som limpo, sem qualquer tipo de distorção. 

 

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publicado por Alexandre Guerra às 23:38
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