A EDP é daquelas empresas que por mais milhões de euros que gaste em estratégias de public relations e de marketing nunca terá os consumidores do seu lado. E porquê? Porque o serviço que a eléctrica nacional presta (até há bem pouco tempo, monopolista) é pago a peso de ouro pelos cidadãos, que se sentem literalmente "explorados" sempre que olham para os inúmeros items da factura. Por mais que a EDP se esforce para surgir aos olhos da opinião pública como uma empresa sustentável e responsável, os consumidores portugueses não embarcam nessa conversa.
Primeiro, porque a empresa não proporciona aos consumidores um serviço propriamente diferenciador, em relação àquele que é oferecido por outra qualquer eléctrica do mundo, que justifique os elevados preços praticados em Portugal. Segundo, a EDP é, ironicamente, uma companhia que aposta forte na comunicação e no marketing institucional, mas é desastrosa no contacto directo com o cliente.
Terceiro, os consumidores sabem hoje em dia que estão a pagar muito mais do que a electricidade, efectivamente, consumida. Estão a pagar, na verdade, todos os mecanismos que têm permitido à EDP valorizar-se junto dos mercados e dos accionistas, através de inúmeras operações, muitas delas de retorno duvidoso e que, nalguns casos, estão a alimentar uma "bolha" que um dia poderá rebentar.
A aposta cega nas "renováveis" desprovida de um paradigma energético sustentável, o avarento plano nacional de barragens, fruto de uma relação de interesses entre o Estado e a eléctrica -- em que os males ambientais e económicos superam claramente as virtudes energéticas --, as inúmeras aquisições comerciais milionárias feitas pela EDP por esse mundo fora, nomeadamente no mercado americano -- e que têm aumentado a dívida colossal da empresa --, criaram a ideia artificial de que a EDP é uma empresa portentosa.
Há uma certa elite económica e política, altamente alinhada e comprometida com os "interesses" do Estado, que tem contribuido para esta efabulação, não deixando de enaltecer os grandes feitos da EDP, esquecendo-se daquilo que devia ser o essencial: o consumidor português.
E neste ponto é interessante comparar os mercados da energia e o das telecomunicações, sobretudo as abordagens da EDP e da PT/MEO aos consumidores no que à comunicação e marketing diz respeito. É justo dizer que a dinamização do mercado das telecomunicações trouxe benefícios para os consumidores em termos de preço final e de qualidade dos serviços. Alguns desses serviços, aliás, reconhecidos internacionalmente como inovadores.
Por exemplo, se o leitor estiver atento à comunicação e ao marketing dos produtos do universo PT/MEO verá que se centram no preço e nos elementos diferenciadores da marca. São mensagens muito concretas e focadas em produtos para o consumidor. Preços de pacotes explicados ao cêntimo, promoções, serviços, etc.
Já a comunicação e o marketing da EDP assentam em mensagens vagas, ideias genéricas, recorrendo-se muitas vezes a conceitos como "responsabilidade" ou "sustentabilidade" e a imagens harmoniosas de idosos, de famílias felizes, de paisagens idílicas, e por aí fora. Mas, depois de tudo "espremido" não se encontra qualquer oferta concreta de valor acrescido para o consumidor. Mesmo ao nível da comunicação mediática, a maior parte das notícias da EDP prendem-se com a vertente institucional e financeira do negócio (cotação em bolsa, aquisições, fusões, relações com a China Three Gorges, operações de "charme", entre outras) e não com os produtos direccionados para o consumidor, que na verdade não existem.
É uma estratégia que serve um determinado propósito, como já aqui foi referido, mas que se distancia por completo daquela que, por exemplo, foi seguida pela PT/MEO e que proporcionou uma relação bem mais benéfica e próxima com os consumidores.
Alguns analistas começam, agora, a levantar o véu sobre o verdadeiro universo EDP. E quanto ao consumidor, este limita-se a questionar: Se a EDP é uma empresa assim tão grande e inovadora, por que é que isso não se reflecte naquilo que é mais importante, ou seja, energia mais barata para as pessoas?
A resposta é simples: a estratégia de gestão da EDP não está focada no bem estar do consumidor, mas sim na satisfação plena dos seus accionistas e investidores. É uma opção aceitável (mas condenada ao fracasso) numa empresa privada, mas imoral numa companhia que cresceu à sombra do Estado e num mercado monopolista.
É por isso que a estratégia de comunicação e de marketing da EDP não visa informar o consumidor do valor acrescido que a empresa lhe possa dar (porque não dá), mas sim criar uma espécie de "distracção" para que seja incutida nas pessoas uma percepção (errada) de que a eléctrica nacional tem muita coisa a oferecer aos seus clientes, quando na verdade não tem nada. Ainda esta Quarta-feira lia-se no Público uma notícia que espelha na perfeição aquilo que é a EDP nos dias de hoje.
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